Hoje é dia de contar história em Ladário, no Mato Grosso do Sul

No ano de 1977, trabalhadores da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ligada à Rede Ferroviária Federal, viram por várias ocasiões surgirem luzes nos trilhos, na região entre Estação Agente Inocêncio e o Posto 50, próximo a Porto Esperança, no Mato Grosso do Sul. Mas o trem nunca chegou, deixando assombrado quem presenciou a repentina claridade do outro lado da linha.

Na época, Sebastião de Souza Brandão, morador de Ladário (MS), não acreditou na história até ver com os próprios olhos, quando trabalhou no trecho como supervisor de via permanente. Trinta e oito anos depois, o ferroviário aposentado, aos 71 anos de idade, irá contar o que viu no documentário de curta-metragem “O Trem Fantasma e a Viola de Cocho”.

A obra será lançada nesta quinta-feira (05/11), às 19 horas, na Rua 14 de Março, como parte da programação do Circuito Nacional de Exibição do Revelando os Brasis – Ano V. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras.

A história – Por quase quatro décadas, a história do misterioso trem ficou guardada nas lembranças dos ferroviários que atuaram naquele trecho da ferrovia que cortava a região Centro-Oeste. “Os antigos me contavam que à noite apareciam luzes de um trem, vindo no sentido entre a Estação Agente Inocêncio e o Posto 50, na direção do Pantanal. Era visto dos dois lados, mas nunca havia saído de lugar algum”, conta Sebastião, ferroviário aposentado há cinco anos.

Inicialmente, ele não acreditou na veracidade dos relatos. Mas, quando foi transferido para a região, teve a oportunidade de confirmar o caso. “Vi as mesmas luzes e também vi fogo queimando na linha férrea. Por várias vezes, como responsável pela turma, reuni a brigada para apagar as chamas, porém, nunca foi constatado a queima de qualquer coisa no local”, relata o diretor. Segundo ele, os homens da brigada chegavam a andar por dois quilômetros na direção do fogo, mas o local permanecia intacto.

Em 2013, a filha de outro ferroviário, colega de trabalho de Sebastião, e ligada à Fundação Municipal de Cultura de Ladário, o incentivou a inscrever a história na quinta edição do Revelando os Brasis. “Espero que o filme fique muito bom. Muitas pessoas costumam não valorizar as tradições da região. Com o filme, vamos mostrar Ladário e Corumbá”, almeja.

O diretor – Casado há 42 anos, Sebastião de Souza Brandão, tem seis filhos e nove netos. Aos 13 anos, trabalhou na bilheteria de um circo que circulou por várias cidades do Mato Grosso do Sul. Foi caminhoneiro, peão boiadeiro, maquinista de barco no Rio Paraguai até chegar a ferroviário.

Atualmente, o diretor, além de trabalhar com reforma de móveis antigos, é um grande mobilizador de ações de preservação da cultura tradicional no município. Aprendeu a fabricar a viola de cocho com o pai e com os Guatós, grupo indígena conhecido pela habilidade na construção de canoas com troncos de árvores, originários do Alto Paraguai, que após a expulsão de suas terras, foram viver em áreas do Pantanal.

Feita de madeira, a viola de cocho é um instrumento musical marcante dos estados Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Seu som acompanha os ritmos e danças do Pantanal, o cururu e siriri, usados para saudar os folguedos populares. O Ministério da Cultura registrou o modo de fazer a viola como patrimônio imaterial do Brasil.

Inicialmente, o mestre artesão e cururueiro ensinou os filhos e netos a construir a viola. Hoje, em um pequeno galpão no quintal de casa, ele instrui pessoas com idade entre 18 e 29 anos a fabricar o instrumento. A Oficina de Confecção da Viola de Cocho faz parte do Microprojeto Pantanal, viabilizado por meio da Funarte. Para Sebastião, que toma o cuidado de buscar a licença dos órgãos ambientais para o corte da madeira de modo a não agredir a natureza, a oficina é importante porque incentiva o jovem a conhecer a história do seu povo e a manter viva a cultura do estado.

A seleção na quinta edição do Revelando os Brasis surpreendeu o diretor. “Eu não tinha ideia que ia dirigir um filme. Quanto mais vivo, mais experiência aparece. Enquanto estiver vivo, eu não quero parar”, comemora Sebastião de Souza Brandão.

Ao som da viola de cocho, o documentário mostra o reencontro, as lembranças e a memória afetiva de ex-ferroviários que trabalharam na construção da linha férrea de Ladário e viveram muitas histórias fantásticas.

 

SERVIÇO

Circuito Nacional de Exibição Revelando os Brasis – Ano V

Lançamento do filme O Trem Fantasma e a Viola de Cocho

Data: 05/11/15

Horário: 19 horas

Local: Rua 14 de Março – Centro – Ladário – Mato Grosso do Sul (MS)

 

O Trem Fantasma e a Viola de Cocho

Roteiro, direção e produção: Sebastião de Souza Brandão

Ladário – MS

Nasceu em 1944. Ensino Fundamental. Ferroviário Aposentado.

Documentário: Ao som da viola de cocho, o reencontro, as lembranças e a memória afetiva de ex-ferroviários que trabalharam na construção da linha férrea de Ladário e viveram muitas histórias fantásticas.

 

 

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