“Recomendação das Almas” é lançado hoje em Irineópolis (SC)

“Meu Senhor crucificado, Filho da Virgem Maria, me guardai por essa noite e amanhã por todo o dia. Meu corpo não seja preso, nem meu sangue derramado. Minha alma que não se perca, meu Senhor crucificado”. Esta é parte da oração tradicional dos caboclos remanescentes da Guerra do Contestado que inspirou o documentário “Recomendação das Almas”, dirigido pelo professor José Sebastião Cocharski. A obra será lançada hoje (11/10), às 20 horas, no Centro de Uso Múltiplo, em Irineópolis, Santa Catarina, como parte da programação do Circuito Nacional de Exibição do Revelando os Brasis. O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul com patrocínio da Petrobras.

A história – Com 10.843 habitantes, segundo estimativa de 2013 do IBGE, o município de Irineópolis ainda preserva o gesto de fazer a oração da recomendação das almas graças ao empenho de uma família da cidade. Nas noites de Quaresma, um grupo de pessoas percorre as casas convidando os moradores do meio rural para rezarem juntos a oração integrada por oito estrofes.

Feita para abrir caminhos para a salvação das almas conduzindo-as para o céu, a reza é cantada durante a noite, principalmente, às sextas-feiras, em frente às residências onde são cravadas cruzes de credo. Quando não as encontram, os rezadores improvisam uma cruz com madeira ou taquara. Para acompanhar as rezas cantadas é usado um instrumento rústico de madeira chamado matraca. No decorrer da oração, as luzes da casa se apagam. Ao final do ritual, os ambientes voltam a ser iluminados e o dono da casa recebe os rezadores para tomar um chimarrão.

A oração era usada pelos caboclos da Guerra do Contestado, um conflito armado ocorrido na região sul, entre outubro de 1912 e 1916, numa área rica em erva-mate e madeira, alvo de disputa territorial entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Nesta época, por ocasião da construção da Estrada de Ferro São Paulo ao Rio Grande do Sul, o governo brasileiro doou terras para grupos ligados à ferrovia a fim de permitir a instalação de uma empresa madeireira.

Expulsos da terra, sem trabalho e sem perspectiva, os camponeses se rebelaram exaltados pelo fanatismo religioso. A guerra gerou o extermínio de mais de 20 mil pessoas entre caboclos e soldados das forças militares estaduais e federais capitaneados por grandes proprietários de terra.

“O documentário quer mostrar a importância de se resgatar esta oração, uma parte da cultura cabocla que está se perdendo. Em Irineópolis, a família do Seu Jordão Pereira ainda mantém a tradição durante a Quaresma. A preservação desta manifestação popular é importante para conservar a fé e a cultura deste povo”, destaca José Cocharski.

O diretor – Com mãe cabocla e pai polonês, José Cocharski foi morar em Irineópolis aos quatro anos de idade. Atua como professor das séries iniciais do ensino fundamental há 35 anos. Estudou Magistério e, em seguida, Pedagogia. Aos 59 anos de idade, o professor se dedica a ensinar crianças a ler e a escrever e matérias como Matemática, Português, História, Geografia e Ciências.

“O maior desafio é ensinar a criança a exercer a cidadania e a atuar como protagonista e não coadjuvante no seu município”, conta o professor. Criado dentro de uma Comunidade Eclesial de Base (CEB), José é militante e assessor de movimentos sociais e um incentivador da formação e da organização dos trabalhadores em sindicados, em especial, os agricultores familiares e os sem terra.

José foi incentivado a participar do Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis – Ano V por uma selecionada da quarta edição, também moradora de Ireneópolis, Dircélia Aparecida Senff Nicoluzzi, diretora da ficção “Tamanca de Madeira”.

Para Cocharski, a chance de participar do projeto, além de contribuir para a preservação da oração dentro da comunidade, tem sido uma oportunidade de formação audiovisual para aplicação em sala de aula. “O curso me deu um novo olhar sobre o audiovisual, um olhar mais crítico através de noções técnicas de enquadramento, de foco e de som. Este conhecimento vai me ajudar na preparação das aulas para os alunos”, explica o professor referindo-se à oficina audiovisual oferecida aos autores selecionados pelo Revelando os Brasis em preparação para a gravação das histórias nas cidades. O curso aconteceu no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2014.

Saiba mais sobre o filme, o diretor e a cidade clicando aqui.

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